domingo, 3 de junho de 2012

Entrevista: Paulo Back, do Expresso Rural ( Nova Blumenau )


Uma entrevista especial. Afinal, sempre acreditei que santo de casa faz milagre sim. E, há décadas que sou fã do grupo genuinamente catarinense Expresso Rural. Em 2010 Blumenau e várias outras cidades tiveram o prazer de receber o grupo para mais uma turnê magnífica. E, para conhecer melhor o Expresso Rural, sob ângulos diversos, nada melhor que uma entrevista. O Paulo Back, baixista do grupo, gentilmente respondeu à algumas perguntas enviadas pelo site, e que vocês podem conferir abaixo. 

1) Como surgiu o Expresso Rural ?

Em 81, Quando Daniel Lucena e Zeca Petry se encontraram em um dos festivais estudantis da época. Ambos participavam e decidiram ali tentar formar um grupo. No meio estava Beto Mondadori. Logo depois chamaram Marcos Ghiorzi. Mas só começaram a fazer uma ou outra apresentação no final do ano, e início de 82, quando Volnei Varaschin e Paulo Back ( eu ) entraram. No mesmo ano contavamos com Sergio Bassit e Tayrone Mandelli nas flautas e saxes. Havia um tecladista convidado, que logo saiu, dando lugar ao Márcio Correa, que entrou no fim de 83. 

2) Musicalmente, qual grupo/cantor que vocês tinham como referência ?

Vários. Posso citar a maior influência como 14 Bis, Boca Livre e Almôndegas.. Mas tinha aquele lance de 'Rock Rural' de Sá e Guarabyra, e várias levadas mais pops de Rita Lee, Beatles e America. A gente ouvia de tudo naquela época. Depois vieram os grupos de rock nacionais, explodiu a new wave com Blitz, Paralamas, Ultraje, e entramos nessa levada também.

3) Se pudessem escolher alguém pra fazer um show especial com vocês, ajudando no vocal, quem escolheriam ?

Olha, qualquer integrante das bandas acima. Mas daqui do estado já pintaram alguns vocais com o pessoal do Dazaranha e Nós Na Aldeia. Difícil dizer. Acho que a gente já está tão acostumado a cantar juntos que não imagino outra voz. Acho que a voz de Flavio Venturini cairia como uma luva nas músicas.

4) O que há de bom atualmente em se tratando de música? E o que há de ruim ?

Eu particularmente vejo uma reciclagem do que já houve e ja foi. Quando aparece algo de novo, já vem com uma certa 'nostalgia'. O pessoal dos anos 80 está voltando com tudo, com um trabalho legal e de qualidade. Teve uma safra boa de bandas 'Britpop', mas estagnou. Vamos esperar...
Quanto ao que há de ruim... Aquele monte de coisa fabricada que aparece no Faustão e que no ano que vem ninguém lembra mais. A memória de cada um se encarrega de dizer. Fica meio chato citar nomes. 
Mas musica é musica, depende do gosto de cada um. Não há um medidor para dizer o que é bom e o que é ruim.

5) Em nosso estado, que nomes merecem destaque atualmente no cenário musical ?

Quando começamos havia o Engenho, que estava num patamar onde todos nós queriamos chegar. Engenho era a única banda com uma proposta mais jovem, universitária, que havia gravado um disco e estourado no Estado. Mas era um pouco regionalista, com coisas da cultura e folclore. Daí partimos para uma linguagem mais direta, jovem, falando de coisas do campo, mas também do cachorro quente da esquina. Era uma proposta diferente.
Logo depois vieram grupos como Tubarão, Decalcomania, e fizemos vários shows juntos.. Nos anos 80 foi um boom musical. Tinha ótimas bandas vindas de todas as cidades. Muita gente, que não há como enumerar sem esquecer de um ou outro. SC ainda continua produzindo gente de talento. Dazaranha e Nós Na Aldeia são apenas um exemplo.

6) Qual o show inesquecível do Expresso? E porque ?

O show de reencontro de 25 anos em 2007 no CIC em Florianópolis. Estávamos com a idéia de fazer um show acústico, pequeno, desde 2005. Na verdade, idéia vinda do Márcio. Mas depois que ele ficou doente engavetamos tudo e ficou meio "doído" para nós mexermos nisso.
Só retomamos em 2007, em tributo à ele. Era para ser só um show, mas a receptividade foi tão grande que decidimos continuar. A energia que rolou naquele dia foi única. Indescritível. 
Chamamos todos da banda naquela noite. Quem não morava mais aqui, veio assim mesmo só para tocar, sem ensaio, sem nada.. Deixamos um teclado montado no palco também para simbolizar o Márcio. Então de uma forma ou outra, estavamos todos lá. Não esperávamos de forma alguma presenciar o que aconteceu naquela noite. Havia algo a mais naquele lugar. Foi um encontro de amigos não só no palco, mas no teatro inteiro. Muita gente chorando, se abraçando, emocionada, cantando junto, de pé, aplaudindo, dançando. Na verdade a platéia éramos nós. O show estava no público. 

Veja a música Certos Amigos, durante o show no CIC acima citado, em 2007.


7) O melhor momento de toda carreira do grupo?

A gravação de Nas Manhãs do Sul do Mundo, que fez com que a banda explodisse no Estado, e o disco Certos Amigos, que possuía grandes músicas e tocou muito nas rádios. Foi entre 83 e 85. Teatros e Ginásios lotados. Foi muito bom. Depois disso deu uma louca na gente e decidimos ir para a Espanha. Perdemos um tempo lá e quando voltamos o cenário era outro. Depois disso houve um grande 'outro' momento, que foi o show de 2007 que comentei acima.

8) E o pior ?

Quando voltamos da Espanha. Algo errado aconteceu e não nos achavamos mais. A banda foi se separando. Mudança de time e de rumo.. Até que não rolou mais nada. 

9) Próximos projetos para o Expresso ?

Não sei. Estamos continuando com os shows no formato deste de 2007, que é mais acústico, dando outra linguagem às músicas antigas. Por enquanto ninguém tem nada de novo em mente. 



10) Falando em matéria de letra, qual a obra prima em nossa música popular ?

Cada um pode ter a sua obra prima na manga, mas partirculamente gosto da letra de 'Sapato Velho', simples e bonita. Diz muito.

11) Internacionalmente, quem vocês admiram ?

Muita coisa. Se eu disser Lady Gaga e Madonna também não estou mentindo. De tudo um pouco. No meu caso, maior influência é Beatles, mas ouço muito anos 70-80, britpop, disco, reggae, folk, dance.. 

12) O nome Expresso Rural surgiu como ?

É coisa do Zeca Petry. Ninguém tinha nome pra banda. Ele sonhou com este nome escrito no bumbo da bateria. O subconsciente deu isto de presente a ele. No dia seguinte ele anotou e apresentou à banda. Como o 'Rural' era muito frequente nas letras, teve tudo a ver.

13) O que acham da pirataria ? E como fazer para combatê-la ?

É um problema grande que afeta muito a industria da arte e os envolvidos. Não há banda ou músico que sobreviva da venda de discos hoje. Mesmo os medalhões internacionais estão voltando aos palcos para faturar o que não ganham nas vendas.
Artista hoje vive de show. 
Por outro lado, a indústria descobriu e está descobrindo alguns atrativos para recuperar parte das vendas. Uma coisa é fisgar os 'fãs' com lançamentos diferentes, com bônus, livretos, embalagens interessantes, e itens para colecionar.
Há quem tente driblar a pirataria colocando bloqueios, mas qualquer um consegue um software para desbloquear um cd ou dvd.
Outros jogam milhares de obras 'falsas' na rede para confundir quem quiser dar um download gratuito.
Acho que a melhor maneira é a consciência. Fazer com que quem esteja comprando um disco pirata perceba que na verdade ele está indo contra o artista. Mas não mudar isso da noite para o dia. Há muito o que se pensar.

14) Numa lista tipo "TOP 5" de todos os tempos, o que nunca faltaria no armário de CDs da banda ? Quais as 5 obras preferidas (em vinil, ou CD), de outros artistas ? 

Caramba. Teríamos que entrar num consenso. Eu colocaria um disco dos Beatles, o Daniel um do America, o Zeca um do Sá e Guarabyra, o Volnei um dos Rolling Stones, e eu colocaria mais um "antigão" da Rita Lee.

15) E num "TOP 5" às avessas, o que nunca faria parte do SET LIST do grupo ? 

Vou responder por mim, não pela banda...
1- qualquer música que tenha "bundinha, agarradinha, garrafinha, cadelinha, eguinha" e outras baixarias na letra ( aquilo que chamam de 'funk' mas não é funk ). Um terror com cheiro de enxofre. 
2- axé.. que virou sinônimo de música baiana, mas houve um tempo em que música baiana não era isso. Acho que axé até era outra coisa. 
3- pagode... ou dor de corno. Não confundir com samba de origem, que tem boa gente da velha guarda de respeito. 
4- qualquer música em que a cantora ( geralmente mulher ) berra mais do que canta, querendo mostrar técnicas e firulas vocais, indo do grave ao falsete como um foguete desgovernado. Começou com cantoras internacionais, mas a praga pegou nas nacionais e homens tentam imitar.
5- vou dizer Restart? Hum..., deixo eles de fora. Não me incomodam.. Só não ouço.

16) Pra finalizar, a frase preferida de alguma das músicas de vocês. 

"não tente juntar os pedaços se foi imperfeito antes de quebrar".. É meio baixo astral, mas é perfeita.
http://www.novablumenau.com.br/2011/01/entrevista-expresso-rural.html

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